top of page
Buscar

História, Trama, e Narrativa

  • Foto do escritor: Guardião Cinzento
    Guardião Cinzento
  • 24 de jan. de 2023
  • 3 min de leitura

Pra quem não sabe, no ano passado, eu defendi minha dissertação de mestrado, assim ganhando o título de Mestre em Estudos Literários. Como pesquisador, eu foco meus esforços na análise da Narratologia Interativa, ou seja, o estudo de estratégias narrativas dentro da mídia dos videogames. O texto a seguir é um dos capítulos introdutórios da minha dissertação (com algumas alterações), onde discuto a diferença entre os termos História, Trama, e Narrativa.


A distinção entre história, trama, e narrativa, é uma que já foi apresentada diversas vezes, em textos como a coletânea Narrative Dynamics, de Brian Richardson, ou no artigo "The Difference between Narrative, Story, & Plot", de Jessica Manuel. Em Narrative Dynamics, E.M. Forster, em seu capítulo "Story & Plot", define uma história como uma sequência de eventos arranjados em uma sequência temporal. Ele exemplifica história como "O Rei morreu e então a Rainha morreu". A história então seria a versão mais simplificada da obra no geral, sendo a base na qual mais será construído.


No mesmo capítulo, Forster também apresenta a ideia da trama de uma forma similar aquela a qual usou para explicar história: como uma sequência de eventos. Trama, porém, têm uma ênfase mais forte na causalidade, uma vez que "a sequência temporal é preservada, mas o senso de causalidade a ofusca". O autor então providência o exemplo de "O Rei morreu, e então a Rainha morreu de tristeza", ou "A Rainha morreu, e ninguém sabia o porquê, até que foi descoberto que foi por causa de sua tristeza em relação a morte do Rei". Neste segundo exemplo, a trama suspende a sequência temporal, se distanciando dela o máximo possível.


Em uma história, a audiência se perguntaria " e depois disso?", enquanto a trama causaria a questão de porque. Finalmente, narrativa é algo similar a um tratamento artístico dos elementos anteriores. Como Manuel explica, "a narrativa é o design do arquiteto, ou como ele espera que outros interpretem aquela construção". Isso se refere a ideia de que narrativa representa como a história é demonstrada, além de como ela é apresentada a sua audiência.


Em um livro, caso a narrativa seja apresentada através da lente de uma fonte não-confiável, então o leitor está experimentando aquela história de uma forma diferente do que estaria, caso houvesse um narrador confiável. Nas Crônicas de Gelo e Fogo, por exemplo, onde cada capítulo é narrado através de personagens de ponto-de-vista, existem diversos exemplos de narração não-confiável.


Em diversos pontos da história, Daenerys Targaryen e seu irmão comentam sobre serem constantemente perseguidos por assassinos contratados pelo usurpador Robert Baratheon. Ainda assim, já no primeiro livro, Robert menciona como se arrepende de nunca ter enviado ninguém atrás deles. Apesar de Daenerys não conhecer a verdade, uma vez que está em outro continente, os leitores sabem.


Além disso, a escolha do autor sobre quais personagens se tornam pontos-de-vista, já é, em si, uma ferramenta para o tratamento artístico da história. Isso é especialmente verdade para personagens que apenas se tornam pontos-de-vista nos livros da frente, como os gêmeos Jaime e Cersei Lannister. Jaime, aliás, é um dos melhores exemplos para isto, uma vez que seu personagem é retratado, nos primeiros livros, apenas por outros personagens. A maioria dos quais o veem apenas pelo que ele é conhecido, ou seja, quebrar juramentos e ser um homem sem honra. Quando ele finalmente se torna um personagem de ponto-de-vista, leitores o veem em seu momento mais baixo, além de aprenderem sobre as razões para a quebra de seu juramento. Desta forma, leitores experimentam o seu lado da história, o qual, é claro, também não é necessariamente confiável, mas afeta a maneira que a audiência entende o personagem, assim fazendo disto parte da narrativa.



 
 
 

Comentários


bottom of page