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Admirável Mundo Novo e We Happy Few - Controle Social e Verdades Difíceis

  • Foto do escritor: Guardião Cinzento
    Guardião Cinzento
  • 22 de abr. de 2023
  • 3 min de leitura

Admirável Mundo Novo, escrito por Aldous Huxley em 1931, apresente um mundo distópico, onde seus cidadãos são condicionados tanto biologica, quanto mentalmente, a viver seguindo um certo grupo de leis e regras baseadas no sistema social de castas. Desde o banimento da procreação biológica até este sistema de castas, dividido entre classes como os poderosos alfas, ou aqueles produzidos em massa, chamados de meio-idiotas, a população deste Mundo Novo foi cientificamente preparada para a maximização da "felicidade humana". Isto é extremamente evidente na existência da Soma, uma droga, a qual, quando consumida, preenche o usuário com sensações de felicidade e realização, dando acesso a, como é descrito, um "feriado da realidade sempre que você quiser".

Enquanto essas ideias já estiveram presentes em outros trabalhos além de Admirável Mundo Novo, eu gostaria de chamar atenção para We Happy Few, um jogo eletrônico de aventura e sobrevivência, desenvolvido em 2016 pela Compulsion Games. Nele, nós controlamos três personagens diferentes em um mundo estranhamente similar ao do livro de Huxley.


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Nesta realidade paralela, onde a Alemanha ganhou a segunda guerra mundial, a cidade inglesa de Wellington Wells manteve sua independência ao entregar todos os seus residentes com uma idade inferior a 13 anos de idade. Por causa disso, seus cidadãos constantemente tomam Joy, uma droga desenhada para fazer as pessoas esquecerem memórias dolorosas, a qual também faz o usuário entrar em um estado eufórico, onde percebem a realidade de uma maneira alterada.


Para manter a façada de Wellington Wells, seus líderes introduziram regras bem similares aquelas que vemos em Admirável Mundo Novo. Além da correspondência óbvia entre Joy e Soma, o jogo também utiliza temas de censura e controle social, chegando a fazer o primeiro personagem jogável, Arthur, a ser um reporter responsável por decidir quais notícias serão publicadas ou censuradas. Sendo um jogo, onde a interatividade é importantíssima, o jogo começa sua trama exatamente com esta situação.


Conforme Arthur trabalha, ele encontra uma imagem de seu irmão, um dos jovens levados pela Alemanha anos atrás, e precisa decidir se deve, ou não, tomar sua pílula de Joy, a qual está sempre próxima. Enquanto alguém poderia argumentar que isso não é sequer uma escolha verdadeira, uma vez que, caso o jogador decida faze Arthur tomar a droga, o jogo simplesmente acaba, com Arthur dizendo que "a felicidade é uma escolha! Hora de ficar de boa na lagoa!" e censurando a imagem de seu irmão, completando assim sua indocrinação no controle de Wellington Wells, o simples fato de que esta escolha existe mostra um dos grandes temas, tanto de We Happy Few, quanto de Admirável Mundo Novo.


O tema de verdades difíceis e tristes contra a felicidade fácil alcançada através da negação. Existem outras escolhas no jogo, incluindo uma similar no final da aventura, onde Arthur precisa decidir se tudo que ele descobriu sequer vale toda a dor que está lhe causando, mas, para mim, nenhuma exemplifica este tema melhor do que a primeira. Arthur pode muito bem continuar vivendo normalmente. Tudo que ele precisa fazer é esquecer sobre seu irmão. Esquecer do seu maior crime. Esquecer que ele trocou as identidades de ambos, uma vez que era ele quem deveria ter sido levado pelos alemães, e não seu irmão.


No centro de ambas as obras está o controle social. Não apenas manipulando e categorizando cada um dos seus grupos da forma mais abrangente possível, tudo pela maximização da "felicidade", mas também eliminando qualquer um que não se conforme. No livro de Huxley, os selvagens representam esta porção da sociedade "não civilizada", enquanto, no jogo, os cidadãos de Wellington Wells que negaram a realidade fabricada da Joy, ou simplesmente se tornaram imúnes aos efeitos da droga, são chamados de "Downers", sendo então caçados e espancados até a submissão. Aqueles que não são ímunes, são forçados a ingerirem Joy, enquanto aqueles que são, simplesmente são mortos.


Para concluir, eu cito os autores Noberto Kuhn Júnior e Simone Carvalho da Rosa no artigo "We Happy Few e o Admirável Mundo Novo: Narrativas de uma Sociedade Distópica". Lá, eles dizem que "a abordagem de We Happy few é bem conteporânea, dando palco a metáfora das "Joys" em nossa sociedade, sejam pelo efeito de vícios, de redes sociais como Facebook, ou a procura interminável da felicidade, como a busca pelo "mundo perfeito", também presente no trabalho de Huxley". Podemos ver como, apesar destes trabalhos terem sido criados com décadas de diferença, seus temas e tons similares adentram profundamente na maldição da humanidade, a qual eu já citei:


É melhor viver feliz em uma mentira, ou conhecer a verdade, e tornar-se triste?


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